13 julho 2006

A nova carta de Pero Vaz de Caminha

xeretando no meu pc achei esta carta embora antiguinha acho atual...


Olá meu amado Rei, aqui quem fala é o Pero Vaz.

Está me ouvindo bem?
Peguei emprestado o celular de um nativo aqui da nova terra.

Tudo bem, o Capitão Pedro está lhe mandando um abraço.
Chegamos na terça, 21 de abril, mas deixei para ligar no domingo porque a ligação é mais barata.

É, aqui tem dessas coisas.

Os nativos ficaram espantados com a nossa chegada por mar, não achavam que éramos Deuses, Majestade.

Acharam que éramos loucos de pisar em um mar tão sujo.

A ligação está boa?

Pois é, essa terra é engraçada.

Têm telefonia celular, digital, automóveis importados, acesso gratuito à internet, mas ainda tem gente que morre de malária e está cheia de criança barriguda de tanto verme.

Por incrível que possa parecer, ainda tem DENGUE. É meio complicado explicar.

Se já encontramos o chefe?

Olha Rei, tá meio complicado. Aqui tem muito cacique para pouco índio.

Logo que chegamos a Porto Seguro tinha um cacique que dizia que fazia chover, que mandava prender e soltar quem ele quisesse. É um cacique bravo mesmo...

Mais para o sul encontramos outra tribo, uma aldeia maravilhosa e muito festiva, com lindas nativas quase nuas.

Seguindo em direção ao sul, saímos do litoral e adentramo-nos ao planalto.

Lá encontramos uma tribo muito grande. A dos índios Sampa.

Conhecemos o seu cacique, que tinha apito, mas que não apitava nada, coitado. Dizem até que ele apanha da mulher.

O senhor está rindo Majestade? Juro que é verdadeiro o meu relato.

Como vossa Majestade pode perceber, é uma terra fácil de colonizar, pois os nativos não falam a mesma língua.

Sim, são pacíficos sim. É só verem um coco no chão pra começarem a chutá-lo e esquecerem da vida.

Sabem, sabem ler, mas não todos. A maioria lê muito mal e acredita em tudo que é escrito. Vai ser moleza, fica frio.

Parece que há um "Cacicão Geral", mas ele quase não é visto. O homem viaja muito. Dizem que se a intenção for evitar encontrá-lo, é só ficar sentado no trono dele.

Engraçado mesmo é que a "indiaiada" trabalha a troco de banana!!! Todo mês eles recebem no mínimo 151 bananas.

Não é piada, Majestade!! É sério!! Só vindo aqui pra ver.

Olha, preciso desligar. O rapaz que me emprestou o telefone celular precisa fazer uma ligação. Ele é comerciante. Disse que precisa avisar ao povo que chegou um novo carregamento de farinha.

Engraçado... eles ficam tão contentes em trabalhar... A cada mercadoria que chega, eles sobem o morro e soltam rojões.

É uma terra muito rica, Majestade. Acho que desta vez acertamos em cheio.

Isso aqui ainda vai ser o país do futuro...

Autor: Paulo D'Angelo, publicitário, reescreveu a Carta de Caminha e ganhou o concurso "Crônica do Ouvinte" promovido pela Rádio Bandeirante

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