03 abril 2006

Bateria de acusações aguarda Palocci na Polícia Federal


Seg, 03 Abr - 08h09
Bateria de acusações aguarda Palocci na Polícia Federal

Agência Estado



O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci será indiciado nesta quarta-feira pela Polícia Federal por pelo menos três crimes: quebra do sigilo funcional, abuso de poder e advocacia administrativa (quando o servidor age dentro do governo indevidamente em seu benefício ou de terceiro). Palocci será ouvido pelo delegado Rodrigo Carneiro Gomes no inquérito aberto para apurar a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo.

Em entrevista ao Estado, publicada no dia 14 de março, o caseiro afirmou que o ex-ministro freqüentava uma mansão no Lago Sul de Brasília, alugada por seus ex-colaboradores na prefeitura de Ribeirão Preto. Na casa, havia partilha de dinheiro e eram organizadas festas com garotas de programa - agenciadas muitas vezes por Jeane Mary Corner.


Ordem


A situação de Palocci, que já era ruim, piorou muito ontem. Pela manhã, depuseram em sigilo, na Polícia Federal, duas das mais importantes testemunhas da ordem dada por Palocci a seus subalternos para que fosse violado o sigilo do caseiro: Cláudio Alencar, chefe de gabinete do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e o secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, Daniel Goldberg. Os dois confirmaram o que a PF já sabe. Foi Palocci quem deu a ordem para a quebra do sigilo bancário de Nildo.


Eles disseram ao delegado Rodrigo Carneiro Gomes que, na quinta-feira, dia 16 (dois dias depois da entrevista do caseiro ao Estado), foram chamados por Palocci por volta das 23 horas. Deveriam ir à casa do ex-ministro, também localizada no Lago Sul, a uns quatro quilômetros da mansão onde atuara a chamada república de Ribeirão Preto - o grupo ligado ao ex-ministro da Fazenda.


Ao chegar lá, encontraram Palocci e Jorge Mattoso, então presidente da Caixa Econômica Federal. Goldberg disse que não conhecia Mattoso pessoalmente. O assessor de Thomaz Bastos acrescentou ainda que, depois de conversar com ele, Mattoso e Palocci dirigiram-se ao escritório da casa. Palocci perguntou a Goldberg se, pela área econômica do governo, havia como investigar os depósitos feitos na conta bancária de Nildo. A Cláudio Alencar, Palocci indagou se não daria para pôr a Polícia Federal no encalço do caseiro que tinha desmentido suas declarações à CPI dos Bingos. Os dois contaram à PF que responderam a Palocci que fariam as consultas necessárias.


Viagem


Naquele dia, o ministro da Justiça estava em Rondônia. No dia seguinte, 17, Alencar quis saber da Polícia Federal se haveria como investigar Nildo. Em resposta, segundo contou ao delegado, ouviu a informação de que não haveria como, porque nada justificava a abertura de um inquérito para apurar alguma coisa a respeito do caseiro. Os dois responderam a Palocci que não havia como prosseguir.


A Polícia Federal já tem a informação de que foi aí que tomou corpo em Palocci e no seu então assessor de Comunicação, Marcelo Netto, a idéia de, com o sigilo do caseiro em mãos, ordenar ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda, que investigasse Nildo. Ou de encaminhar à PF o pedido de abertura de inquérito por movimentação bancária suspeita.


Vazamento


Antes de vazar os extratos bancários à revista Época, a assessoria de Palocci avisou ao senador Tião Viana (PT-AC) que "coisas estranhas" a respeito do caseiro tinham sido descobertas. Tanto é que a informação sobre "revelações surpreendentes" circularam pelo Congresso antes mesmo que a Época desse a informação em seu site.


Ouvido pela Polícia Federal na semana passada, Jorge Mattoso contou que havia dado os extratos de Nildo ao próprio Antonio Palocci. No mesmo dia, Mattoso e o então ministro da Fazenda, seu superior, foram demitidos.


Ao notar a repercussão que a conduta criminosa tinha tomado e perceberem que não tinham como evitar que seus nomes aparecessem no caso, Daniel Goldberg e Cláudio Alencar procuraram a Polícia Federal e se puseram à disposição para depor. Foram chamados ontem mesmo.

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